Skate Para Meninas
Mas não foram só as iniciantes que levaram tombos fenomenais. O fato de não exigir o uso de capacete na pista surpreendeu, e resultou num total de apenas três concorrentes usando o acessório de proteção que é item obrigatório na maioria das pistas brasileiras, mesmo que não esteja rolando uma competição. Nem mesmo as profissionais presentes usaram. Na verdade, vimos muitas boinas estilosas e tranças bem feitas, mas capacete que é bom, zero. Esse fator foi de encontro diretamente ao modo com que a pista foi montada, com rampas de partida cuja altura não colaborava para dar impulso suficiente para as skatisas realizarem as manobras corretamente.
Porém, o clima dos treinos antes das baterias ela animador. As garotas interagiam bastante, trocavam informações, discutiam aperfeiçoamentos, e corriam bastante. O clima na arquibancada era bem ‘família’, e uma das coisas mais bacanas do evento foi ver os pais participando, torcendo, e lançando sorrisos reconfortantes para suas filhas quando elas caiam ou erravam alguma manobra. As turmas de amigos torcendo e vibrando era um grande estímulo para as garotas aperfeiçoarem movimentos e ousarem mais na próxima rampa.
A presença de Jéssica Florêncio e Letícia Bufoni, famosa por fazer a rockslide de salto e vestido para uma peça comercial, foi estimulante para várias meninas que acompanham a trajetória das profissionais, e vêem nelas grandes fontes de inspiração. Houveram participações internacionais, como a Mecu e a Eugenia Ginepro, da Argentina. O show de abertura contou com a banda de hardcore feminista Dominatrix, velhas conhecidas do Blogueiras Feministas e orgulho da cena punk rock.
Algumas questões sobre a realização do evento devem ser consideradas em uma reflexão mais profunda. Como, por exemplo, algumas pessoas que se diziam patrocinadoras e apenas davam cartão para as garotas fisicamente mais atraentes; o completo descaso com a questão de segurança (o capacete) citada antes; a falta de patrocinadores; e a divulgação do evento.
A cena do skate já é marginal, e a participação das garotas é mais marginal ainda. Li em alguns sites que o público feminino já representa uma parcela significativa na cena, mas é impressionante o descaso com que esse público é tratado pelas marcas. Acessórios de tamanhos apropriados para a anatomia feminina são raros - problema parecido com o das lutadoras que encontram só luvas rosas para o tamanho de suas mãos -, e elas ainda são tratadas como parte secundária nos grandes campeonatos. E em uma das campanhas publicitárias mais famosas, envolvendo skate, é sobre um produto de higiene íntima. Poucas campanhas mostram mulheres vendendo skates para mulheres e homens.
Talvez seja tempo de parar de chamar essas skatistas de meninas. Promovê-las ao lado dos grandes nomes do esporte, deixá-las competir em igualdade de número com os rapazes e dar espaço para que o esterótipo da skatista gata não se torne mais uma regra de ideal inatingível.
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